sábado, 25 de maio de 2013

Médicos Estrangeiros - Governo anuncia a entrada de 6.000 vindos de CUBA.

Quem tem medo da vinda de médicos estrangeiros para o Brasil?

medico-cubanoDepois que o governo brasileiro anunciou a entrada de 6.000 médicos de Cuba no Brasil, acrescentando que outros ainda serão admitidos vindos de Portugal e da Espanha, um debate parece ter dividido a opinião pública.
O ministro das Relações Exteriores explicou que esses médicos seriam encaminhados às localidades remotas e carentes do país, aquelas em que o índice de médicos por habitante é extremamente baixo. Ou seja, ficou claro que os médicos estrangeiros não vão competir com os médicos brasileiros nas grandes cidades e nem tampouco abrir consultórios particulares, porque a atuação será no atendimento público.
No entanto, é intrigante, para não dizer preocupante, a posição da Associação Médica Brasileira, que anunciou sua disposição de acionar judicialmente o governo brasileiro por essa medida, ainda afirmando com um grande grau de preconceito que esses médicos fizeram cursos “em faculdades de baixíssima qualidade”. O presidente da Associação, em sua atitude irresponsável, ainda levanta a hipótese ameaçadora de que poderão ocorrer erros, complicações e mortes, causadas por médicos incompetentes, como se no atendimento público de saúde brasileiro já não ocorressem “erros, complicações e mortes”.
Tal atitude apressada e preconceituosa está visivelmente permeada de medo diante de uma mudança no “status quo” da situação de carência de profissionais da medicina em locais não rentáveis economicamente, já abandonados pela classe médica, que prefere atender nos centros urbanos e de preferência nas proximidades das escolas de medicina aonde se formaram.
As estatísticas mostram que 70% dos médicos estão concentrados no Sudeste, Sul e grandes cidades do Brasil, segundo o Conselho Federal de Medicina. Enquanto a média nacional é de 1,95  médicos por mil habitantes, no Distrito Federal essa média chega a 4,02 e na cidade de São Paulo a 4,3 médicos por mil habitantes. Nos estados do Amapá, Pará e Maranhão está o oposto, a média é de menos de um médico para mil habitantes.
doutoresA maioria dos médicos acaba por fixar moradia na cidade onde se encontra a sua faculdade e nas cidades maiores, porque ali estão melhores oportunidades de trabalho e os serviços de saúde públicos e privados, que dispõem de equipamentos de alta tecnologia, com os quais se acostumaram a trabalhar. É possível também obter maiores rendimentos quando existe a possibilidade de atender nos plantões públicos, nos postos de saúde e ao mesmo tempo nos consultórios particulares, onde são remunerados pelos convênios.
Isso significa que as regiões remotas, os chamados “grotões” não tem atraído os profissionais da medicina que seriam necessários, não somente para tratar doenças, mas acima de tudo, para prevenir os problemas de saúde e evitar os tratamentos mais caros.
Se atualmente no Brasil estão registrados 371.788 médicos, a maioria absoluta, de 260.251 está atuando nas regiões Sul e Sudeste. E o governo até acenou com oferta de vencimentos superiores à media para atrair médicos às outras regiões, mas isso foi inútil. Mesmo nas grandes cidades, o setor público dispõe de quatro vezes menos médicos que no setor privado. Segundo a Agência Nacional de Saúde Suplementar, são 46, 6 milhões os usuários de planos de saúde hoje no Brasil e o número de médicos no atendimento é de 354.536. No SUS – Sistema Único de Saúde, o número de usuários é de 144,1 milhões de pessoas e o número de médicos para atender é bem menor, de apenas 281.481.
Por outro lado, os médicos cubanos, ao contrário do que foi precocemente e preconceituosamente afirmado pela AMB, são responsáveis pelos melhores índices de saúde na América. Segundo a OMS – Organização Mundial de Saúde, apesar do bloqueio econômico, Cuba dá exemplo para o mundo e tem obtido resultados melhores do que os do Brasil e até dos Estados Unidos.
A medicina preventiva de Cuba obteve como resultado a taxa de mortalidade infantil mais baixa da América e de todo o Terceiro Mundo – de 4,9 por mil, inferior à do Canadá e Estados Unidos. A perspectiva de vida dos cubanos, de 78m8 anos, é comparável à qualquer das nações mais desenvolvidas.
Em Cuba há um médico para cada 148 habitantes! Isso mesmo, 1 médico para 148 habitantes, distribuídos pelo país, com 100% de cobertura para todas as localidades. Essa média de médicos por habitante é o dobro da média dos Estados Unidos e é a mais alta do mundo. Segundo a importante revista médica New England Journal of Medicine, os sistema de saúde cubano providencia médicos para todas as famílias com todo o atendimento gratuito.
Revolutionary DoctorsCuba formou, em 2012, em suas 25 faculdades médicas, 11 mil novos médicos, dos quais 5.315 eram cubanos e 5.694 de 69 países de todo o mundo. A ilha é procurada pela excelência da medicina que pratica. Atualmente há 24 mil estudantes estrangeiros estudando medicina em Cuba. Somente na Escola Latino-Americana de Medicina são 25 especialidades distintas.
Os tratamentos avançaram para vencer desafios, desenvolvendo vacinas contra o câncer do pulmão, a hepatite B, progressos na cura do mal de Parkinson e dengue. O enfoque dos médicos cubanos é o de evitar o aparecimento das doenças. Na Venezuela, onde existem 20 mil médicos cubanos, houve uma melhoria radical na situação da saúde pública.
Enquanto isso o Brasil forma 13 mil médicos por ano, para uma população 20 vezes maior.  Os médicos formados não tem compromisso em retribuir os cursos públicos investidos em sua formação, que, nas escolas de medicina públicas foi estimada em R$792 mil reais, sem incluir a residência.
Uma medida que poderia corrigir essas distorções seria a obrigatoriedade dos médicos recém-formados, que tiveram sua formação custeada pelo Estado, de prestarem atendimento, por dois anos, nos municípios com menos de 30 mil habitantes e em comunidades da periferia de regiões metropolitanas.
Portanto, as críticas à vinda de médicos estrangeiros, que além do mais, somente ficariam por aqui durante 3 anos, segundo o ministro da Educação, parecem denotar uma atitude protecionista suspeita. A medicina preventiva, que diminui as incidências que levam a cirurgias e procedimentos médicos que rendem mais dividendos, também parece despertar reações contrárias. É notória a hipocrisia de quem sai na defesa dos direitos dos pobres, quando na verdade a população carente já está, muitas vezes, abandonada à própria sorte, nas regiões remotas e nas filas de atendimento das periferias das grandes cidades. É uma visão corporativista, que defende a mercantilização do atendimento, em detrimento do compromisso social de prestar serviços humanitários e salvar vidas.
Sobre o autor: Regina Di Ciommo
Mestrado e Doutorado em Sociologia pela UNESP – Universidade Estadual Paulista, pós-doutorado em Recursos Naturais com especialização em Ecologia Humana. Pesquisadora da Universidade Estadual da Bahia, em Ilhéus, é professora de cursos de pós-graduação. Autora e coordenadora de projetos de desenvolvimento local e sustentabilidade, nos estados de São Paulo e Bahia.

Nenhum comentário:

Postar um comentário